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Crônicas

Crônica: Sábado de Manhã!

6 de maio de 2016

Sábado de manhã. É o fim de uma semana, mas é impossível não compará-lo a um recomeço. Um fôlego. Uma pausa.
O tempo, tão bonito lá fora. Mas ela prefere só abrir uma frecha da cortina, pra deixar alguns poucos e bons raios de sol entrar. E com o sol, entra os sentimentos bons. O silêncio é dádiva, presente. Depois de uma semana agitada, cheia de coisas indesejadas, cheia de sentimentos não bem-vindos, tudo que ela precisava era isso. Uma manhã de sábado. O chá quentinho na xícara de porcelana, ouviu lá de fora, um canto de passarinho. O corpo lívido, as mãos quentes, o coração igual. Cantarolou uma canção, aquela nova do Tiago Iorc, tão serena quanto a manhã. “Me espera…”, ecoou nos azulejos do banheiro.
Não tinha buzinas, nem o barulho do ar condicionado. Não tinha falações sobre assuntos irrelevantes, não tinha a sujeira da política, não tinha a acidez de um meio de semana regado a uma bebida forte pra acalmar a ansiedade. Ali, ela não se lembrava nem o que era esse mal. Sentiu-se dona da manhã, dona de si, senhora do seu próprio dia. Diante de tal calmaria, se libertou de pensamentos acelerados, se permitiu pensar apenas no que acalmava o coração.
Fez uma prece. Melhor, agradeceu. É muito mais fácil agradecer quando se está em paz, pensou. Fez uma nota mental para agradecer todos os dias.
Estava tão feliz. A sensação de perceber que a felicidade é simples é arrebatadora, no entanto tão silenciosa que não saberia explicar. Sorriu sozinha, gargalhou. Ouviu sua risada e prestou atenção. Em um primeiro momento, desejou que todo dia fosse sábado. Mas logo chegou a conclusão óbvia da vida: se temos algo que gostamos muito sempre, isso logo deixará de se tornar especial. Agradeceu mais um vez. Afinal, agradecer nunca é demais.
Ainda assim, desejou que os minutos se estendessem, que as horas demorassem a passar. Aquele era o seu momento, o momento mais desejado da semana. E por mais que logo se passasse, outra manhã de sábado sempre estaria por vir. Uma diferente da outra, mesmo que seguisse um ritual. Era a graça da coisa.
E que fique a lição: encontre tu também o seu momento, o seu sábado de manhã. E fique feliz em saber, que mesmo após uma semana indesejada, quando menos perceber, ele vai chegar.

Ela respirou fundo, se espreguiçou e entendeu. A semana valeu, só por aquele momento. A vida sempre vale, pela simplicidade de algumas coisas. Não adianta querer supervalorizar coisas que não acalmam. O que você precisa, sempre vai chegar, devagar, sem custos, livre… Como um sábado de manhã.

Thai.

Crônicas

Crônica: Vai Ficar Tudo Bem!

31 de março de 2016

Tá tudo bem. É melhor dizer assim, segurando a expressão mais serena que consigo fazer, por uns cinco ou dez minutos, tentando fazer com que a angústia recorrente não transpareça para que você simplesmente se vá sem perceber. Mas você percebe, claro que sim, só finge que não. Mas você prefere falar do tempo, que pro seu azar está completamente nublado, e não é de hoje. Elogia meu cabelo, diz que sempre fiquei melhor de cabelo curto, e tentar me convencer com o olhar de que marcar um chopp pra um dia desses é boa ideia. Você foi o meu melhor parceiro, de copo, de beijo, de cama… E se eu nunca te disse isso em alto e bom som, me desculpa, não é agora que vou dizer. Agora o que a gente realmente precisa é deixar a nossa decisão seguir o curso, o fluxo. Não sei dizer se doeu em você o tanto que doeu em mim, tampouco afirmar se ainda dói um pouco da imensidão que dói em mim, em você. Mas de alguma forma, essa angústia de não te ter por perto sempre que desejo, tá me fazendo crescer. E aí, depois de mentalizar todos os benefícios de ficar sozinha, numa terça feira quase chuvosa, a gente se esbarra e a minha armadura desabada e você me desarma mais uma vez. Me diz se é por querer, me explica se esse sorriso branco e grande é mesmo pra me diminuir, fazer meu coração quase se reduzir a pó de tão apertado. Ao menos tenta colocar em palavras como é essa coisa de sempre fazer com que eu queira voltar atrás… Se ficar mais fácil, desenha. Mas resolve esse problema, me ajuda a me ajudar, e coisa e tal. Você me conhece, sabe como sofro sendo assim, tão ansiosa e sempre morrendo antes de levar o tiro. Então vamos cada um pro seu lado, fingindo que nada demais aconteceu, ignorando o arrepio que me ocorre quando você repousa seus olhos nos meus por segundos que parecem infinitos. Vamos combinar assim… Vai ser melhor.

E só de pensar no trabalho de recomeçar mais um processo de esquecimento desse encontro, me sinto exausta. A gente de despede, enfim. Tantas palavras engasgadas, mas que mesmo ditas não mudariam nada. Não sei dizer com clareza quanto tempo perdemos – ou ganhamos. A chuva não se aguenta e cai, semelhante ao meu corpo que quer desabar em qualquer canto. E no meu rosto, tem água, é lágrima disfarçada de chuva, mas ninguém percebe e ninguém precisa saber. Pelo menos consegui segurar até você ir. Respiro fundo e mentalizo, vai ficar tudo bem. E repito isso, até que fique de fato.

Thai.

Crônicas

Crônica: Eu preciso dizer que te amo.

11 de novembro de 2015

casal

Eu vejo fantasmas em plena luz do dia, eu bebo um café ruim, eu ando em círculos pela sala retangular pequena, uma, duas, três, quatro… E uma música de funk me perturba. Contar até quatro, nunca mais foi a mesma coisa desde que você me apresentou essa praga de música. Eu, implicante, te questionava como se jogava o clima “lá no alto”, e você revirava os olhos e fazia a dancinha do “alto-cima”, mostrando que não cedeu a minha implicância. Você era a pessoa que eu mais amava implicar, levando em conta, que eu só implico com quem eu gosto, eu só irrito quem eu gosto e de você, eu gosto demais. E no fundo, eu sabia que já tinha virado amor há uma ou duas semanas, quando eu te vi chorando pela morte do seu hamster, e eu quis virar um hamster só pra te ver sorrir de novo. Eu prometi te dar um animal com uma vida que durasse mais, mas você disse que não queria mais cuidar de nada a não ser um filho e eu quis te dar um filho (…). Eu quase falei isso em voz alta, e eu sei que você arregalaria os olhos assustada como quando fica assustada de verdade. Eu nunca te disse que eu sei quando você finge estar assustada e quando realmente fica. Em todo caso, guardei pra mim. E desde então eu fico dando voltas na sala pequena, imaginando em como seria um filho seu, comigo. E as vezes acho que estou ficando maluco e cheguei a sonhar com bebês mais de três vezes em uma semana. E a música do Naldo ecoa no apartamento como uma praga quando eu ligo o rádio e eu decidi que escutar rádio nunca foi e não é mais boa opção. Ontem a noite eu resolvi sair pra beber com aquele meu amigo, o Yuri, que você odeia. E ele disse que tudo bem eu ter pirado e ter te afastado de repente e falou pra eu superar, e descobri porque você o odeia tanto, e me peguei o odiando também. Um amigo não diz essas coisas pra um amigo que tá amando, mesmo não sabendo disso. O deixei falando sozinho na segunda cerveja, e hoje acordei com ele me ligando. Ele é mais carente que mulher, muito mais insuportável que você na tpm, e daí entendi de vez porque você o odeia tanto. E depois da cerveja, eu comecei a soluçar feito doido voltando pra casa e eu me lembrei de como você curava essas minhas crises com uns beijos no meu pescoço maravilhosos. Você dizia que não era o beijo em si, e sim a distração que ele causava, que você aprendeu isso em uma revista estrangeira de não sei de onde, devia ser da Europa, já que você amava os lados de lá. E por falar da Europa, eu amava o jeito que seus olhos se enchiam quando você lembrava da sua viagem pra Londres, que seu sonho era ficar por lá e ouvir Beatles eternamente. Mas eu sabia, que você não ia aguentar muito tempo sem comer feijoada e ouvir esses funks escrotos. Mas sabe o que não era escroto? Era você dançando funk, com aquele negócio que era grande demais pra ser calcinha e curto demais pra ser um short, mas era sexy de qualquer jeito. Você sabia me entreter tão bem, sabia meus pontos fracos e fazia dos seus pontos fortes a minha fraqueza também. Eu te chamava de bruxa, macumbeira, feiticeira e no meu interior eu gritava M-A-R-A-V-I-L-H-O-S-A, soletrado e em maiúsculas. Agora eu fico perambulando na pior pista de skate da cidade, porque eu sei que é lá que você vai tomar uns tombos sem ninguém pra rir de você. E tá quase chovendo e eu continuo aqui, porque eu sei que você é do tipo de maluco que gosta de andar na chuva, assim como gosta de praia num calor de mais de 40°. Você é toda doidinha com essa tatuagem em inglês no braço, com esse cabelo de chapinha, porque o seu natural é um enrolado que eu adoro, mas que você odeia. E por que eu te adoro tanto? Que cacete! Por que eu tô aqui parado na chuva, na esperança de te encontrar e dizer tudo isso na sua cara e te ver ficar assustada de mentira, porque eu sei, eu sei que você ia amar. Eu sei de tanta coisa, e não sei como eu consegui te afastar. Eu sei de tanta coisa e não consigo parar de andar em círculos, ouvir Naldo e sonhar com hamsters com cara de criança e vice e versa. Eu sei de tanto detalhe e esqueci do principal, de lembrar que você odeia esse meu jeito lerdo de raciocinar. Por isso eu tô correndo na chuva pra dizer que te amo, te ganhar ou ganhar (nesse caso não aceito perder) sem engano, eu preciso dizer que te amo e tô indo, me espera.

Thai.

Crônicas

Crônica: Acumulando Pedaços.

16 de setembro de 2015

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Quando eu era garoto, minha mãe me dizia que eu tinha que aprender a doar as coisas que eu não queria mais. Mas por mais que não brincasse mais com um brinquedo, eu gostava de vê-lo no meio dos outros, eu gostava de saber que ele estava ali, que ainda era meu. Ela insiste que sou acumulador até hoje, quando vem me visitar. Quando olha meu armário, tem pavor.
Eu não sou acumulador. Defino essa minha mania – sim, porque é apenas uma mania – como a vontade de ter as coisas que já gostei por perto.
Uma pena não ter conseguido o mesmo com você…

Mas todos os dias a caneca do super-homem que você me deu de um mês de namoro, me encara da prateleira. Não a uso mais, mas gosto de tê-la ali. Me faz lembrar das manhãs em que você tomava nescau gelado na sua caneca de menina, que você deixou quebrar na segunda semana. Depois de meses consegui concluir que a sua especialidade é mesmo essa: quebrar coisas. Pior, quebrar coisas minhas. Inúmeros copos, dezenas de pratos, três porta-retratos e até o meu dedo mindinho, brincando de lutinha. Se você espera ler que quebrou meu coração, espere até a próxima linha.
Como você conseguiu quebrar meu coração e não quebrou a caneca de super-homem? E como você esperava que eu realmente fosse “super” alguma coisa, sendo essa energia que me puxa pra baixo? Tantas perguntas surgiram nesse tempo, nem delas eu consigo desapegar. Fotos escondidas, algumas mesmo rasgadas. Tem dias, que se me concentro bem, ouço seus espirros descontrolados e em sequência. Sua voz cantarolando no meio do banho, misturada ao barulho da água do chuveiro. Ainda tem meio vidro de shampoo de frutas vermelhas, ainda tem um dvd da sua série favorita, uma blusa preta de renda, um pacote do chá que você gostava de tomar a noite, suponho que esteja vencido. Mas é como se essas coisas te esperassem voltar. Será que você se lembra que eu tô te devendo 32 reais e vinte centavos? Parece que sou mesmo um acumulador, e mais que isso, um acumulador de coisas suas.
Sabe, eu não entendo nada da vida. Mas suponho muita coisa, e sendo assim, me pergunto como estaria hoje, se tivesse aprendido a doar as coisas que não me serviam mais. Porque já está mais que provado que você não me serve mais, pelo contrário, está de um tamanho desproporcional pra mim.
E enquanto você me quebra, eu fico aqui, só acumulando os pedaços.
Que só me ferem. Ainda.

Thai.

Crônicas

Crônica: 14:47.

26 de agosto de 2015

Quando eu te vi na rua, distante e distraído, de longe soube que naquele instante minha vida mudaria. Eu tinha a escolha de desviar o olhar e continuar andando pro lado oposto como se nada tivesse acontecido, mas isso não era possível. Porque aconteceu… Aconteceu que minha alma se encontrou de repente sob a tênue linha onde o tudo e o nada se encontram, a mesma linha onde fica o amor e a indiferença. Onde os opostos estão lado a lado. Eu escolhi ir ao seu encontro.
Senti milhares de sensações e isso não era fácil de ser ignorado. Naquele momento senti como se eu nunca fosse esquecer o seu rosto, ou o jeito com que você olhava pro chão enquanto chutava uma pequena pedra. Não me pergunte como pude captar tanta informação em tão pouco tempo. Talvez o segredo seja que o tempo sempre para quando duas almas que tem que se encontrar, finalmente se encontram. O universo conspira, os astros ficam a favor.
Então, nos seguintes segundos que você levantou o olhar do chão, moveu o corpo na minha direção e rapidamente me dirigiu três palavras fatais, das quais eu já sabia antes mesmo que emitisse o som: “Que horas são?”. Não soube responder na hora, meu rosto esquentou, senti uma leve tontura. Você colocou a mão sobre meu braço e perguntou se estava tudo bem. E de uma forma estranha, estava.
Eu quis dizer que estava passando mal de tão bem. Mas me contentei em dar um sorriso constrangido e dizer “Obrigada”, a primeira palavra que me veio a mente. A sua cara de confuso foi muito engraçada, você não fazia ideia do porque do agradecimento, você não tinha ideia de quem eu era. E era eu. Eu, a pessoa que tinha passado dias pensando naquele encontro e nas três palavras. Eu, que me sujeitei a ideia maluca de marcar um encontro com um desconhecido. Eu que não sabia nada sobre ele, apenas que ele já tinha perguntado as horas pra todas as moças que tinham passado por ali desde o meio dia. E nenhuma delas tinha dado a resposta que ele esperava.
Você continuou me olhando, mas foi como se você entendesse tudo naquele momento. Abriu um sorriso, sorri em sincronia. Agora minha alma estava certa de que tinha feito a melhor escolha. Ele tirou a mecha de cabelo que voou pra frente dos meus olhos e repetiu com mais ênfase dessa vez: “Você sabe que horas são?”
– Sim, é a hora certa.

E a certeza que fica é que a hora certa sempre chega, mesmo depois de uma frustrante espera.

Thai.