Sábado de manhã. É o fim de uma semana, mas é impossível não compará-lo a um recomeço. Um fôlego. Uma pausa.
O tempo, tão bonito lá fora. Mas ela prefere só abrir uma frecha da cortina, pra deixar alguns poucos e bons raios de sol entrar. E com o sol, entra os sentimentos bons. O silêncio é dádiva, presente. Depois de uma semana agitada, cheia de coisas indesejadas, cheia de sentimentos não bem-vindos, tudo que ela precisava era isso. Uma manhã de sábado. O chá quentinho na xícara de porcelana, ouviu lá de fora, um canto de passarinho. O corpo lívido, as mãos quentes, o coração igual. Cantarolou uma canção, aquela nova do Tiago Iorc, tão serena quanto a manhã. “Me espera…”, ecoou nos azulejos do banheiro.
Não tinha buzinas, nem o barulho do ar condicionado. Não tinha falações sobre assuntos irrelevantes, não tinha a sujeira da política, não tinha a acidez de um meio de semana regado a uma bebida forte pra acalmar a ansiedade. Ali, ela não se lembrava nem o que era esse mal. Sentiu-se dona da manhã, dona de si, senhora do seu próprio dia. Diante de tal calmaria, se libertou de pensamentos acelerados, se permitiu pensar apenas no que acalmava o coração.
Fez uma prece. Melhor, agradeceu. É muito mais fácil agradecer quando se está em paz, pensou. Fez uma nota mental para agradecer todos os dias.
Estava tão feliz. A sensação de perceber que a felicidade é simples é arrebatadora, no entanto tão silenciosa que não saberia explicar. Sorriu sozinha, gargalhou. Ouviu sua risada e prestou atenção. Em um primeiro momento, desejou que todo dia fosse sábado. Mas logo chegou a conclusão óbvia da vida: se temos algo que gostamos muito sempre, isso logo deixará de se tornar especial. Agradeceu mais um vez. Afinal, agradecer nunca é demais.
Ainda assim, desejou que os minutos se estendessem, que as horas demorassem a passar. Aquele era o seu momento, o momento mais desejado da semana. E por mais que logo se passasse, outra manhã de sábado sempre estaria por vir. Uma diferente da outra, mesmo que seguisse um ritual. Era a graça da coisa.
E que fique a lição: encontre tu também o seu momento, o seu sábado de manhã. E fique feliz em saber, que mesmo após uma semana indesejada, quando menos perceber, ele vai chegar.
Ela respirou fundo, se espreguiçou e entendeu. A semana valeu, só por aquele momento. A vida sempre vale, pela simplicidade de algumas coisas. Não adianta querer supervalorizar coisas que não acalmam. O que você precisa, sempre vai chegar, devagar, sem custos, livre… Como um sábado de manhã.
Thai.
Sem Comentários