Crônicas

Crônica: Acumulando Pedaços.

16 de setembro de 2015

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Quando eu era garoto, minha mãe me dizia que eu tinha que aprender a doar as coisas que eu não queria mais. Mas por mais que não brincasse mais com um brinquedo, eu gostava de vê-lo no meio dos outros, eu gostava de saber que ele estava ali, que ainda era meu. Ela insiste que sou acumulador até hoje, quando vem me visitar. Quando olha meu armário, tem pavor.
Eu não sou acumulador. Defino essa minha mania – sim, porque é apenas uma mania – como a vontade de ter as coisas que já gostei por perto.
Uma pena não ter conseguido o mesmo com você…

Mas todos os dias a caneca do super-homem que você me deu de um mês de namoro, me encara da prateleira. Não a uso mais, mas gosto de tê-la ali. Me faz lembrar das manhãs em que você tomava nescau gelado na sua caneca de menina, que você deixou quebrar na segunda semana. Depois de meses consegui concluir que a sua especialidade é mesmo essa: quebrar coisas. Pior, quebrar coisas minhas. Inúmeros copos, dezenas de pratos, três porta-retratos e até o meu dedo mindinho, brincando de lutinha. Se você espera ler que quebrou meu coração, espere até a próxima linha.
Como você conseguiu quebrar meu coração e não quebrou a caneca de super-homem? E como você esperava que eu realmente fosse “super” alguma coisa, sendo essa energia que me puxa pra baixo? Tantas perguntas surgiram nesse tempo, nem delas eu consigo desapegar. Fotos escondidas, algumas mesmo rasgadas. Tem dias, que se me concentro bem, ouço seus espirros descontrolados e em sequência. Sua voz cantarolando no meio do banho, misturada ao barulho da água do chuveiro. Ainda tem meio vidro de shampoo de frutas vermelhas, ainda tem um dvd da sua série favorita, uma blusa preta de renda, um pacote do chá que você gostava de tomar a noite, suponho que esteja vencido. Mas é como se essas coisas te esperassem voltar. Será que você se lembra que eu tô te devendo 32 reais e vinte centavos? Parece que sou mesmo um acumulador, e mais que isso, um acumulador de coisas suas.
Sabe, eu não entendo nada da vida. Mas suponho muita coisa, e sendo assim, me pergunto como estaria hoje, se tivesse aprendido a doar as coisas que não me serviam mais. Porque já está mais que provado que você não me serve mais, pelo contrário, está de um tamanho desproporcional pra mim.
E enquanto você me quebra, eu fico aqui, só acumulando os pedaços.
Que só me ferem. Ainda.

Thai.

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